domingo, 22 de maio de 2016

Arco do Cego

vou frequentemente a Lisboa e não raramente estaciono no Jardim do "Arco do Cego". sempre me fez espécie tal nome. onde estaria esse arco, que já lá não está, e que cego tão famoso seria esse?
do arco há notícia. não do seu nascimento, mas da sua morte.
em setembro de 1742 foi ali demolido um arco para que pudesse passar a carruagem do rei D. João V, em viagem para as Caldas da Rainha, onde iria curar-se a banhos termais.
o arco foi demolido mas o rei acabou por preferir um bergantim e ir rio acima até Vila Nova da Rainha, no concelho da Azambuja, e daí seguir para as Caldas as 28 milhas restantes..

do "cego" é que não há notícia, pelo menos de que eu tenha conhecimento. da última vez que lá estacionei verifiquei uma pequena diferença na designação do parque. em lugar de "Arco do Cego" dizia agora "Arco Cego".
pensei: "é dessas modernidades de tirar os 'des' às palavras compostas, tão do agrado das parangonas de jornais e telejornais.
"nã !" - pensei, depois, melhor. isto até que faz sentido: "arco cego" existe, "arco do cego" é que é mais difícil.
e então o que vem a ser um "arco cego"? é um arco que por necessidade posterior à sua constrção, ou por qualquer outro motivo, foi fechado com pedra ou qualquer outro material de construção, de jeito que já nada se pode ver através dele.
fica também mais compreensível por que houve que o demolir para passar o rei, que, afinal de contas, não passou.
e serve esta estória para compreender as voltas que os nomes dão. sobretudo quando a sua história já não é conhecida das pessoas residentes.
hemos de convir que "Arco do Cego" tem mais poesia, mais magia, sei lá. mas "Arco Cego" é o que faz sentido prático.

Um comentário:

Luis Filipe Gomes disse...

O mistério continua se quisermos saber que arco era para assumir relevância de se tornar topónimo. Era arco de que construção? A verdade é que ficam os nomes quando as "coisas" e as pessoas que perto delas viveram se foram. No local havia uma passagem entre a Filipa de Vilhena e a Visconde Valmor era o "sobe e desce" nasceu lá um prédio mas tempos depois ainda era o sobe e desce, agora não sei.
Onde existe o banco, a sede da CGD, existiu a fábrica de cerâmica Luzitania era para os residentes a fábrica do francês um tal Bessiére.Fizeram-na ali porque forneceu os tijolos para a praça de touros e ali ficou enquanto a cidade cresceu, agora no sítio está a sede do banco. Dizem que abundantes nascentes de água ali havia e foi difícil estancar os veios, seria o arco cego de alguma ponte ou aqueduto? O declive no outro lado do Bairro do Arco Cego pende para Arroios.
No muro que separava a rua do Arco Cego com o espaço do jardim até à rua Costa Goodolfim existiu uma pedra gravada com a altura do muro e centrada sobre ela como um marco havia uma coluna singela sem fuste ou capitel. Dizia a pedra que tinha sido ali, naquele preciso local, que a Raínha Santa Isabel se encontrara Com D. Dinis e com o filho o futuro Afonso IV conseguindo evitar uma terrível batalha entre dois exércitos que se perfilavam um no Campo Grande e outro no Campo Pequeno. A pedra desapareceu não sei se para aliviar a falta de rigor histórico com que tanta coisa foi construída pelo ano de 1940.
Enfim a toponímia é a história antes dos livros de história e apesar deles.