terça-feira, 22 de novembro de 2011

procedimentos inaceitáveis

uma vez mais, acabo de descobrir um post deste blogue copiado na íntegra sem menção da fonte.

este tipo de procedimento não será tolerado.

post original:
http://toponimialusitana.blogspot.com/2006/06/nomes-e-apelidos-de-origem-toponmica.html

nota: o post copiado foi retirado do blogue infrator.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

a "ilha" do Brasil.

a chamada "Carta do Achamento do Brasil" termina assim:

"Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Desde Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha".

a expressão "Carta do Achamento" e o uso do nome feminino singular "ilha" faz-me pensar: dada a impossibilidade de a testemunha e seus companheiros de viagem confirmarem, na altura, se o território onde aportaram era uma "ilha" ou não, indica claramente a ideia pré-concebida com que lá aportaram: a da existência de uma "Ilha" naquelas paragens, algo que estava perdido, foi procurado e "achado". e essa constatação conduz-nos, em segundo lugar, às lendas celtas da existência, a oeste do mar Atlântico, de uma Antília (que alguns creem ser corrupção de Atlântida), Ilhas Afortunadas ou Ilha de São Brandão. este São Brandão, um monge irlandês do séc. V e VI, ficou conhecido pelo famoso "Périplo de São Brandão" ou "Navigatio Sancti Brendani", cuja versão escrita é do séc. X / XI. nesse périplo, São Brandão terá percorrido as costas do Continente Ocidental. esta navegação de São Brandão retoma uma lenda celta da existência de "Bre'asil", o mítico território "vermelho" de além do mar Oceano.
tão forte era a tradição que foi de pouca dura a designação de "Vera Cruz". designação esta que, por sua vez, já não era completamente estranha à tradição celta, como refiro noutro ponto deste blogue.

domingo, 18 de setembro de 2011

canários (Mad.)

"canário", seja gente seja pássaro, refere-se às ilhas Canárias, cujo nome deriva de cão: "ilhas dos cães", ou "canárias". gente destas ilhas, fossem aborígenes guanches feitos escravos, fossem gente forra e até de linhagem, fez parte do contributo étnico do arquipélago da Madeira. dessas raízes étnicas reza memória na toponímia, como é o caso do Lugar do Canário (Ponta do Sol, atual Lugar de Baixo), do Pico do Canário e da Vereda dos Canários. de facto, estes lugares não têm o nome da ave canora de penas doiradas, mas de gente oriunda do arquipélago vizinho.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

trás os montes

ao contrário do que se possa pensar, a designação "Trás os Montes" não se refere a um território situado "para lá" dos montes de Entre Douro e Minho (Marão, Alvão, Barroso, Cabreira, Larouco), visto do lado minho-duriense, mas sim a um território que fica "para lá dos montes" leoneses, visto do lado do antigo reino de Leão. o seu antigo nome, de origem claramente leonesa, "Tra llos Montes", associado à existência de mais que um topónimo "Tramonte" na região fronteiriça galega e galego-leonesa atestam isso mesmo.
além do mais, a palavra pode ter uma interpretação inesperada, tendo em conta que "trasmonte" é o "por do sol", como ainda hoje se pode constatar no italiano "tramonto". na linguagem popular nortenha, a ideia de "tra[s]monte" como ponto cardeal subsiste na expressão "perder a tra[s]montana", ou seja, perder a capacidade de se "orientar" - neste caso, "ocidentar". o mesmo que "perder o juízo".
e, sendo assim, o nome da província portuguesa adquire um significado que se entende bem: as "terras do por do sol", o "ocidente". o que não será novidade nenhuma nesta "ocidental praia"...

é curioso o subtítulo que Théophile Gauthier deu ao seu livro "Voyage en Espagne", publicado em Paris, em 1890. nem mais nem menos: "tra los montes". Espanha (Península Ibérica), o Ocidente do Mundo Antigo, a Separad dos Judeus, o Al-Gharb dos Árabes. Ocidente, sempre. "Far West", como dirá um camone.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

topónimos galego-portugueses terminados em "-e"

quase todos genitivos alatinados do nome de possuidores de terras maioritariamente germânicos, estes topónimos, como muitos outros com origem no nome de proprietários, contribuem para a memória dos nomes de pessoas usados na época da sua criação. de notar que todos os antropónimos originais são formas alatinadas, não latinas.

os topónimos abaixo significam "propriedade de...F.../terras de...F..."

Adaúfe - genitivo de "Athaulfus" (Adolfo)
Afife - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido. uma possível etimologia arábica é pouco provável, dada a localização nortenha do topónimo
Alte - genitivo de "Altus"
Amarante - origem controversa. há quem veja no topónimo um genitivo de um presumível proprietário germânico com um suposto nome de "Amaranthus". porém, o género do topónimo na linguagem local e das redondezas é feminino ("A Amarante"), o que parece incompatível com a tese do genitivo de antropónimo. e, desse modo, há que admitir uma origem pré-romana, céltica, onde está presente o "Marão", a serra de que Amarante é a porta de entrada.
Andrade - genitivo de "Antriatus"
Anelhe - genitivo de "Anelius"?
Ardesende - genitivo de "Ardesindus"
Bagunte - genitivo de "Baguntus"
Bande - genitivo de "Bandus"
Beade - genitivo de "Beatus". também aparece sob a forma Veade
Bente - forma evolutiva do genitivo de "Benedictus"
Boelhe - genitivo de "Boelius"/"Bonelius"?
Boente - genitivo de "Volentius"
Boliqueime - palavra árabe composta de "birr"/"bur"/"bul" (poço) e o genitivo de "Hakeim" (nome do seu proprietário). veja-se a curiosa redundância do topónimo "Poço de Boliqueime" ("poço do poço de Hakeim")
Bousende - genitivo de "Baudisindus"
Cadilhe - genitivo de "Cadilius"
Caíde - genitivo de "Caítus"/"Kaídus"
Calvelhe - genitivo de "Calvellus"
Cête - supõe-se que seja genitivo de um tal "Cetus"
Chorence - genitivo de "Florentius" (Florêncio)
Chorente - genitivo de "Florentius"
Combe - genitivo de "Columbus" (Colombo, Pombo)
Dume - genitivo de "Dumio"
Fafe - genitivo de "Fafus"
Fagilde - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido
Garfe - genitivo de "Garff"/"Warff"
Lobelhe - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido
Melide - genitivo de antropónimo ainda não estabelecido ("Bellitus"? "Mellitus"?)
Minde - genitivo de "Mindus"
Mogege - genitivo de "Mazegius" (etimologia desconhecida)
Nande - genitivo de antropónimo ainda desconhecido ("Nandus"?)
Nine - genitivo de "Ninus"
Novelhe - genitivo de "Novelius"
Nune - genitivo de "Nunus" (Nuno)
Paderne - genitivo de "Paternus"
Pidre - genitivo de "Petrus" (Pedro)
Punhe - genitivo de "Punius" ?
Rande - genitivo de "Raandus" /"Randus"
Recarei - genitivo de "Recaredus"
Reimonde - genitivo de "Raimundus" (Raimundo)
Resende - genitivo de "Redisindus"
Ronfe - genitivo de "Ranulfus"
Ruílhe - genitivo de "Rodellus"/"Rotellus"
Sande - genitivo de "Sandus"
Segade - genitivo de "Segatus"
Seide - origem controversa. a sua grafia antiga aponta para origem arábica, apesar de se tratar de topónimos nortenhos (norte de Portugal e Galiza).
Sende - genitivo de "Sindus"
Sesulfe - genitivo de um antropónimo germânico latinizado ainda não estabelecido.
Sezulfe - ver Sesulfe
Sinde - genitivo de "Sindus"
Tagilde - genitivo de "Atanagildus"
Veade - ver Beade
Vide - genitivo de "Vitus"

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Gelfa (Xerfa), Gelfas (Jalfas, Jarfas, Xalfas, Xarfas)

estes topónimos têm a caraterística de se situarem junto de água, rios, lagunas, lagoas ou mar, em terrenos de tipo dunar de vegetação bravia: relva, pastos nascediços em terrenos maninhos, lugar de pastagem. a etimologia é desconhecida, embora haja quem lhes descubra uma origem arábica, muito pouco provável - o topónimo predomina na região costeira nortenha, de Aveiro à Corunha. a sua presença no Ribatejo pode dever-se à migração de falantes do norte.
Gelfa aparece em Portugal na Torreira, em Ovar, em Vila Praia de Âncora e em Abrantes. Gelfas existe em Castanheira do Ribatejo. houve em tempos o topónimo "Gelfamar", correspondente a uma mata no termo de Faria (v. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico).

conta-se que na Lagoa das Jalfas ou Jarfas (Xalfas, Xarfas), em Muros (Gz.), houve em tempos uma cidade. mas um dia, por volta da meia noite, quando todos dormiam, o mar subiu, galgou as dunas e engoliu a cidade e todos os que nela viviam (ecos de uma lenda atlante? explicação fantasiada da formação da lagoa?).ainda hoje, no dia de são João, se ouvem os gemidos da gente e dos animais que ali morreram afogados. os sinos da igreja repenicam, e até há quem veja uma moça vaidosa a pentear-se ao espelho (cf. Galicia Encantada, Enciclopedia de Fantasia Popular de Galicia).

quarta-feira, 13 de julho de 2011

má partilha

este curioso nome de lugar, um microtopónimo, parece verter algum azedume por um testamento mal aceite ou uma herança mal resolvida, transparecendo um sentimento de injustiça tão forte que mereceu ficar petrificado na toponímia, como vingança perene. conheço dois lugares com este nome: um, o Sítio da Má Partilha, em Alvor, concelho de Portimão - onde se construiu uma dessas urbanizações dos dias de hoje; outro, a Quinta da Má Partilha, no concelho de Azeitão - onde se produz um excelente vinho merlot.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

covas, covinhas e covões

a toponímia regista os acidentes topográficos como fatores suficientemente distintivos para distinguir pelo nome lugares que, provavelmente e de início, nada mais tinham que os distinguisse dos outros.


As Covas (Gz.) - particularismo desaconselhável. está por "Covas"

Cobelo (Gz.) - particularismo desaconselhável. está por "Covelo". ou será "Cubelo" (pequena torre de fortificação)?

Cova (Pt., Gz. e Br.) – gruta?
Cova da Beira -
Cova da Iria –
Cova da Lapa -
Cova da Loba -
Cova da Moura –
Cova da Piedade -
Cova da Raposa -
Cova de Alvito -
Cova de Dominique – por “Cova Dominica”? cf. “Covadonga”
Cova de Lobos (Gz.) -
Covada -
Covadela -
Covadinhas –
Cova do Barro –
Cova do Bicho -
Cova do Inferno -
Cova do Ouro -
Cova do Pico (Md.)-
Cova do Vapor -
Cova do Viriato -
Cova-Gala -
Covais -
Coval (Pt. e Gz.)-
Covalhão -
Coval Quente –
Covanca (Pt. e Br.) -
Covão –
Covão do Lobo –
Covas (Pt., Gz. e Br.)–
Covas da Raposa –
Covas do Rio –
Covela (Pt. e Gz.)
Covelas – diminut. de “Covas”
Covelha -
Covelho - ver "Covelo"
Covelinha (Pt. e Gz.) - duplo diminutivo de "Cova"
Covelinhas – duplo diminutivo de “Covas”
Covelinho - ver "Covelo"
Covelo (Pt. e Gz.) – ver "Cobelo"
Covelo do Gerês –
Covelos (Pt. e Gz.) –
Covetas -
Covetinhas -
Covide –
Covilhã – cf. “Convilhana”
Covinha (Pt. e Gz.) -
Covinhas (Pt. e Br.) -
Covita -
Covões -
Cubelo (Gz.) - ver "Cobelo"
Eira Cova -
Eira de Vilacoba ou Eira de Vila Cova (Gz.)-
Lagoa Cova -
Penacova -
San Paio de Vilacoba ou São Paio de Vila Cova (Gz.)-
São Pedro da Cova -
Vila Cova (Pt. e Gz.)-
Vila Cova a Coelheira -
Vila Cova da Lixa -
Vila Cova de Carros -
Vila Cova de Cima -
Vila Cova de Perrinho -
Vila Cova de Tavares -
Vila Cova do Alva -

Vila Cova do Covelo - uma curiosa redundância, ou Covelo está por "Cubelo"?

domingo, 30 de janeiro de 2011

chousa e derivados

chousa é uma porção de monte cerrado e acoutado; herdade ou horto fechado, que se destina a diversos cultivos e onde também existem árvores; tapada, terreno cercado ou murado, grande área com bosques, campos e água corrente, murada em toda a volta e destinada à criação e preservação da caça para gozo de particulares; conjunto cercado de leiras pertencentes a um mesmo dono.

já pouco usada no português de Portugal, a palavra "chousa" e suas derivadas estão presentes na toponímia galego-portuguesa de inspiração rural:

Choso
Chousa
Chousais
Chousal
Chousalinho
Chousa Nova
Chousas
Chousa Velha
Chousela
Chouselas
Chouselinha - duplo diminutivo de Chousa
Chousinha
Chouso
Chousos
Souselas

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

topónimos híbridos românico-arábicos

os topónimos híbridos românico-arábicos testemunham a presença de populações de fala romance (neste caso dialetos galaico-portugueses), sob domínio arábico. o fenómeno de hibridação ocorre sempre que a língua autótone está sob domínio estranho, como no caso da toponímia africana, americana e asiática que tenha sofrido hibridação com línguas europeias, designadamente o português.
a hibridação românico-arábica traduziu-se, em geral, na aposição do artigo "al" a topónimos que traduzissem substantivos e num certo grau de alteração da fonética original.


exemplos de topónimos híbridos românico-arábicos:

Alapraia - de al- A Praia
Albandeira - de al-Bandeira
Albarquel - de al-Barquel
Albogas - de al-Bogas
Alboritel - de al-Portel (?)
Alcabideche - de al-caput acqua
Alcabideque - o mesmo que Alcabideche
Alcabrichel - de al-Caprichel
Alcamim - de al-Caminho
Alcanede - de al-Canetu
Alcanena - ver Alcanede
Alcaraboiça - de al-Caraboiça
Alcarapinha - de al-Carapinha
Alcava - de al-Cava
Alcolombal - de al-Colombal
Alcongosta - de al-Congosta
Alcôrrego - de al-Côrrego (córrego, corgo) (hidrónimo)
Alcoruchel - de al-Coruchel (cf. Coruche=cruze, cruz, cruzamento)
Alenquer - de al-Enquer (hidrónimo) - do grupo "ank-"

Alfarelos - do árab al-fakhkhar + sufixo diminut. românico -elos. neste caso, não parece um topónimo moçarábico mas antes mudéjar.

Alfeite - de al-Feite (feto)
Alfeiteira - de al-Feiteira
Alfontes - de al-Fontes
Alfornelos - de al-Fornelos ("pequenos fornos")
Almalaguês - de al-Malaguês (?)
Almendra - arabização de amindula (amêndoa)

Almoçageme - "os [mouros] estrangeirados". referir-se-ia a mouros cristianizados, logo, mudéjars. totalmente arábico, não é um topónimo híbrido. é, a título de curiosidade, uma designação que denota como os mouros de território mourisco viam os mouros de território cristão ou cristianizados.

Almonda - de al-Monda (hidrónimo)
Almoster - de al-Monasteriu
Almourol - de al-Mourol
Almortão - de al-Motão
Alpalhão - de al-Palhão (o mesmo que Paleão / Palião?)
Alpedrede - al-Pedrede
Alpedreira - de al-Pedreira
Alpedrinha - de al-Pedrinha
Alpendorada - de al-Pendorada (relação com pendor?)
Alpedriz - de al-Pedriz
Alpiarça - de al-Peaça
Alpoim - de al-Podium
Alviela - de al-Veela (veio de água) (hidrónimo)