segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Fisterra (Gz.)

Fisterra, do latim finis terrae, "fim do mundo", é um topónimo estranho. fins-do-mundo há muitos: Cabo Carvoeiro, Cabo da Roca, Cabo Espichel, Cabo de São Vicente, etc., etc. por que motivo são especificamente Finisterrae este cabo galego, o Finistère francês da Bretanha e o Land's End inglês da Cornualha?
diz-se que "Fisterra" é o (ou a) fim-do-mundo porque é o cabo mais ocidental do Continente Europeu. falso: o cabo mais ocidental é o Cabo da Roca. e que razão presidiria, então, ao nome do cabo Finistère e do Land's End?
temos de admitir que, no caso galego como no caso francês e inglês, haja razão especial para que um certo mundo ali termine.
creio que a razão é profunda e vem do mais recôndito dos séculos: uma razão religiosa, mágica, iniciática.
na Galiza, o Fisterra culmina a Costa da Morte, nome já de si misterioso, e conclui o Caminho de Santiago; em França, diz-se que o Cabo Finistère (Penn ar Bed, em bretão) deve o seu nome à abadia bretã de Saint Mathieu de Fine-Terre, lugar deserto e lúgubre; na Cornualha, Land's End (Penn an Wlas, em língua céltica) está associado ao ciclo de lendas do Rei Artur.
e acresce que Fisterra, embora de origem latina, não é o nome que os romanos davam ao cabo da Galiza. para eles, o cabo era o Promontorium Nerio, do nome de uma tribo celta, cuja religião celebrava a "paixão e morte" do Sol.
em comum, têm os três cabos o serem pontos de contacto com o "Ocidente", o lado da terra "onde o sol morre", ou melhor, o lugar da terra "onde matam o sol"; os vestígios de uma linguagem sacra expressa nas pedras; e a fonte de onde emanam lendas e lendas cujo sentido se oculta no embalo das palavras.

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