quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Lá como Cá

já tratei em postagens anteriores das cidades brasileiras homónimas de cidades e vilas portuguesas, bem como dos topónimos em língua portuguesa relacionados com "pedra".
trato agora de topónimos que, não sendo cá nomes de cidades, vilas ou freguesias importantes, nem estando propriamente relacionados com "pedra", se encontram transpostos ou criados para nomes de cidades no Brasil.
em alguns casos (Andorinha, Antas, Cruz, Mazagão, etc.) a simples transposição faz com que se perca a relação semântica com o topónimo galego-português original.
quero dizer, transpôs-se o topónimo mas não o seu significado. este fenómeno tem de ser considerado quando estudamos topónimos de origem exterior, por exemplo, os topónimos celtas, sardos, gregos e fenícios em Portugal ou na Galiza.
vejamos o topónimo "Antas", no Brasil: não existem "antas" no Brasil, pelo que foi transposto o topónimo tendo em conta alguma terra portuguesa ou galega com esse nome, mas a relação com o seu significado (o monumento megalítico correspondente) já não existe.
nos casos em que um topónimo em português não tenha um significado óbvio, em face da realidade brasileira local, o seu significado original deve ser procurado na toponímia galego-portuguesa.
desta vez vou esforçar-me por uma lista bem comprida.


exemplos:

Água Boa (Mato Grosso, Minas Gerais)
Água Fria (Bahia)
Alagoa (Minas Gerais)
Aldeias Altas (Maranhão)

Almenara (Minas Gerais) - "al-menara" é "atalaia", em árabe

Andorinha (Bahia)
Antas (Bahia) - ver Comentº de Jolorib
Arcos (Minas Gerais)

Areia Branca (Rio Grande do Norte, Sergipe) - em Portugal há "Praia da Areia Branca"

Areal (Rio de Janeiro)
Atalaia (Paraná)
Baixio (Ceará)
Balsas (Maranhão)
Barra (Bahia)
Barracão (Paraná)
Barreira (Ceará)
Barreirinha (Amazonas)
Barreirinhas (Maranhão)
Barreiros (Pernambuco)
Barrinha (São Paulo)
Barro (Ceará)
Barrocas (Bahia)
Barroso (Minas Gerais)
Bela Vista (Maranhão)
Bicas (Minas Gerais)
Boa Vista (Roraima)
Bom Jardim (Maranhão)

Bom Sucesso (Minas Gerais, Paraíba) - em Portugal, "Bom Sucesso" ocorre em Aveiro e na Figueira da Foz, duas cidades ligadas à faina da pesca

Bonfim (Minas Gerais, Roraima)
Bonito (Pernambuco)
Brejo (Maranhão)
Brejões (Bahia)
Cabeceiras (Goiás)
Cabedelo (Paraíba)
Cabo Frio (Rio de Janeiro)
Cabo Verde (Minas Gerais)
Campo Alegre (Alagoas, Santa Catarina)
Campo do Meio (Minas Gerais)
Campo Grande (Alagoas, Rio Grande do Norte)
Canas (São Paulo)
Candeal (Bahia)
Candeias (Bahia, Minas Gerais)
Canta Galo (Minas Gerais)

Cantagalo (Paraná, Rio de Janeiro) - na Ilha Terceira, Açores, é um orónimo

Capela (Alagoas)
Casa Nova (Bahia)
Casinhas (Pernambuco)
Castelo (Ceará)
Castro (Paraná)
Cedro (Ceará)
Chã Grande (Pernambuco)
Chã Preta (Alagoas)

Cidreira (Rio Grande do Sul) - há uma "Cidreira" aqui bem perto de Coimbra

Cruz (Ceará)

Cruz Alta (Rio Grande do Sul) - há uma "Cruz Alta" no Bussaco

Currais (Pernambuco)
Encruzilhada (Bahia)
Entre Rios (Bahia, Santa Catarina)

Estrela Dalva (Minas Gerais) - em Portugal há "Estrela d'Alva", perto de Penacova

Farol (Paraná)
Feira da Mata (Bahia)
Feira de Santana (Bahia)
Feira Nova (Pernambuco, Sergipe)
Ferreiros (Pernambuco)
Figueira (Paraná)
Fonte Boa (Amazonas)
Fortaleza (Ceará)
Fronteira (Minas Gerais)
Gavião (Bahia)
Igreja Nova (Alagoas)
Ilhéus (Bahia)
Junqueiro (Alagoas)
Lagoa Grande (Pernambuco)
Laranjal (Paraná)
Laranjeiras (Sergipe)
Linhares (Ceará)
Macieira (Santa Catarina)
Mãe d' Água (Paraíba)
Marco (Ceará)
Mata (Rio Grande do Sul)
Mata de São João (Bahia)
Mata Grande (Alagoas)
Matinha (Maranhão)
Matinhos (Paraná)
Mazagão (Amapá)
Mercês (Minas Gerais)
Mesquita (Minas Gerais)
Montanha (Ceará)
Monte Alto (São Paulo)
Monte Santo (Bahia)
Mundo Novo (Bahia)
Olho d' Água (Paraíba)
Olho d' Água das Flores (Alagoas)
Olho d' Água do Casado (Alagoas)
Olho d' Água Grande (Alagoas)
Ortigueira (Paraná)
Palmares (Pernambuco)
Palmeira (Santa Catarina)
Palmeiras (Bahia)
Paraíso (São Paulo)
Paranhos (Mato Grosso do Sul)
Pé de Serra (Bahia)
Pesqueira (Pernambuco)
Pinhais (Paraná)
Pinheiros (Ceará)
Pintadas (Bahia)
Pocinhos (Paraíba)

Ponta Grossa (Paraná) - para quem se interesse pela Taxonomia, "Ponta Grossa" é o antónimo de "Ponta Delgada"

Pontal (São Paulo)
Porto Velho (Rondónia)
Prado (Bahia)
Praia Grande (Santa Catarina, São Paulo)

Prainha (Pará) - embora a grafia correcta seja "Praiinha", em Portugal tamém já é rara

Queimadas (Bahia)

Raposa (Maranhão) - pode ser tradução do tupi-guarani "Gambá"

Rio Largo (Alagoas)
Rio Novo (Minas Gerais)

Rio Quente (Goiás) - em Portugal, Ilha de S. Miguel, Açores, há "Ribeira Quente"

Rio Real (Bahia)
Rio Tinto (Paraíba)
Salgueiro (Pernambuco)
Salto (São Paulo)
Seara (Santa Catarina)
Serra do Navio (Amapá)
Serrinha (Bahia)

Serro (Minas Gerais) - embora errada, em Portugal é frequente a grafia "Cerro"

Sobradinho (Bahia)
Tanque Novo (Bahia)
Tanquinho (Bahia)
Várzea (Paraíba)
Várzea do Poço (Bahia)
Várzea Nova (Bahia)
Vereda (Bahia)
Vila Boa (Goiás)
Vila Rica (Mato Grosso)
Vila Velha (Ceará)
Vista Alegre (Rio Grande do Sul)




2 comentários:

Jo Lorib disse...

Algumas considerações quanto a ''Anta''. É certo que no Brasil não existem monumentos megalíticos. Anta se refere ao mamífero, também chamado Tapir, então seu uso pode se dever a existência de grande número desses animais. Também considero a hipótese de existirem lajes horizontais de pedra, mas naturais, normalmente chamadas ''Lapa'', geralmente um ótimo abrigo natural'e um topónimo muito utilizado, e que tenham sido chamadas erroneamente de ''Anta''

josé cunha-oliveira disse...

obrigado. é uma excelente achega para entender esse topónimo.
bom Natal e ainda melhor 2007!