quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha (1906-1976)


Fará trinta anos a 10 de abril que resolveu partir. digo "resolveu" porque podia ter resolvido seguir os conselhos da medicina. mas nisso ele era como os romanos: não tinha os filhos de Imhotep em grande conta, talvez fossem para ele um pouco menos que charlatães... passaria horas, se tivesse tempo, a contar histórias risíveis dos pobres práticos que, coitados, prescreveriam remédios piores do que as maleitas. mas não foi com isso que me demoveu de seguir a vocação. preferiria que eu fosse alguém nas letras, que tivesse jeito prá escrita e viesse a ser, sei lá, um prémio nobel. mas eu nunca tive muita queda para escrita demorada, nem fiz amigos prestáveis para aquele fim.
semeou, se calhar, uma semente melhor. ele era um manancial inesgotável de sabedoria. dominava a origem das palavras, o nome das terras e a forma de os decifrar, os nomes de família, os brasões, conhecia os caminhos velhos, as calçadas romanas, os marcos miliários, os montes onde podia esgravatar ruína antiga, os ditos e lendas populares e a maneira de os trocar em miúdos. tinha uma enorme biblioteca: era um espaço sagrado, um útero, nela bebi a cultura galega e brasileira, numa época em que a grande maioria dos patrícios desconhecia uma e outra. "airinhos, airinhos aires, airinhos da minha terra"... "minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. as aves que cá gorjeiam não gorjeiam, como lá"...
fez-me andar em escavações arqueológicas, onde me entranhei de pó, de terra e de fascínio. gostava de mim porque eu era o filho mais velho da irmã dele - um antigo parentesco de excelência.
escreveu A Língua e a Literatura Portuguesa, manual de estudo para os alunos dos seminários e um livro muito seguido do Outro Lado do Atlântico. é também dele uma Gramática Latina que chegou à 7º edição.
além dos livros que escreveu e dos artigos que fazia publicar no Diário do Minho, participou como colaborador assíduo na Grande Enciclopédia Luso-Brasileira e na Enciclopédia Verbo.
nascido em S. Torcato , Guimarães, a 24 de fevereiro de 1906, foi professor do Seminário de Santiago (Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo) e cónego do cabido da sé de Braga. tem hoje o seu nome na toponímia urbana da Bracara Augusta. está referenciado na net, na bibliografia sobre a cidade.

(ver também este artigo e este aqui)


*In Memoriam*

Nenhum comentário: