terça-feira, 29 de novembro de 2005

Há Muitas Marias na Terra...

...mas nem tudo o que tem nome de Maria é simplesmente mulher.


O topónimo Maria pertence ao grupo de topónimos em "Almourol" (ver postagem "Mouros e Mouras...."), "Marão", "Mariola", "Meira", "Mora", "Morouços", "Moura", "Mouro", "Mouronho", e relaciona-se com a ideia de "pedra", "pena", "penedia", "penha", "penhasco":


Alto de Maria Dorme

Alto do Mariola - ver Mariola. poderá traduzir-se por Alto da Penina. na Comunitat Valenciana, Província de Alicante (Alacant), há uma "Serra Mariola"

Maçãs de Dona Maria - este "Dona" é o euskera "dona", que quer dizer "Santa"? nesse caso, traduzir-se-ia por "casais da penha-penedia-pedra santa"? ou, simplesmente, por "Casais de Santa Maria"? sobre "Dona" ver post. NB: no entanto, há quem veja nesta "D. Maria" a D. Maria Pais Ribeira, amante do segundo rei de Portugal, D. Sancho I, a qual ficou conhecida como a Ribeirinha. "Maçãs" seria o nome de uma ribeira. ver "Hidrónimos ou Nomes de Rios". o problema é a presença, nas proximidades de Maçãs de D. Maria, dos topónimos "Maçãs de Caminho" (mais próprio de "Maçãs"="mansões", "casas de repousar") e de "Vendas de Maria" (em que a senhora passa de "Dona" a uma mulher qualquer...).

Maria Gomes

Marialva - junta os temas Maria e Alva/Alba. o mesmo que Penalva: monte rochoso

Marianaia
Maria Pires
Maria Queimada
Maria Santinhos
Maria Vinagre
Mariola - diminut. de Maria: "peninha", "penina"
Pedra Maria - pleonasmo: "pedra-pedra"
Venda de Maria - muito perto de Maçãs de Dona Maria


do mesmo grupo:

Almeirim (?)
Amarela
Amareleja
Amarelo
Amarelos
Meira (Gal.)

(...a continuar...)

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Hidrónimos, ou Nomes de Rios

os nomes de rios (assim como o nome das serras), obedecem muito frequentemente a uma regra simples de estratificação, que consiste em sobrepor a palavra "rio" nas sucessivas línguas dos povos que ocuparam o território ao longo dos tempos. um bom exemplo disso é o Rio Guadiana: "rio guadiana"; isto é, "rio-rio-rio". Calidónia*(Gz.) fez o favor de contribuir para este post, com alguns dos nomes apontados adiante. estudar esses nomes é um interessante exercicio de arqueologia linguística, já que todos os nomes de rios que se seguem querem dizer "rio", "corrente" ou "manancial" na respetiva língua original:


Abad (Gz.) (o mesmo que Abade)

Abade - tem as variantes dialetais Ba*, Bade* e Vade , sendo que o "Vade" português deverá ser uma hipercorreção de origem erudita em lugar de "Bade". pode, porém, haver contributos linguísticos muito diversos para resultados idênticos. no atual euskera "ibai" significa "ribeira". tem origem num anterior "bai", não sei se o mesmo que o "Bad". há quem veja esta raiz nos topónimos "Baião" e "Baiona".

Abade de Neiva -
Abadia - está em lugar de A Badia
Abadim *(Gz.)
Adão
Adinho
Águeda
Alcabrichel
Alcoa - híbrido árabe Al + "Côa": "O Côa"
Alcórrego - híbrido árabe Al + "Córrego": "O Córrego"
Alenquer - híbrido árabe Al + "ank": "O Rio"
Alfusqueiro
Almonda - híbrido árabe Al + "Monda": "O Rio". ver "Mondego"
Alva

Alviela - diminut. de Alva ? ou Al+"Venella": "pequeno veio de água"?

Alvôco - diminut. de "Alva"
Ançã
Ancão
Âncora
Anços
Anlhom (Gz.) - graf. altern. "Anllón"
Ansião
Antanhol
Antuã
Ar (Gz.) (*)
Arade (*) - rio arade: rio-rio-rio?
Arante (Gz.) (*)
Arenteiro (Gz.) (*)
Arão (*)
Arapouco (*) - ribeira de Arapouco: ribeira-ribeira-ribeira?
Aravil (*)
Arda
Ardela - diminut. de Arda (*) Arelho - diminut. de Aro (*)
Ares *(Gz.) (*)
Arnego (Gz.) (*) - repare-se na terminação "-ego", como "Mondego"
Arnóia
Arouca (*)
Arouce (*)

Arraiolos (*) - não é hidrónimo mas refere-se a pequenos rios ou riachos: diminut. plur. de Arroio: Arroio+ olo+s

Arróio (*)
Arunca (*) - "aro"+"ank": rio-rio?
Asnes
Asnela (diminut. de Asnes ?)
Asnos
Avanca - "av-"+"ank": rio-rio
Ave (*)
Avia (Gz.) (*)
Avô - de "Avolo", diminut de "Ave": "Avoo" - Avô
Ba ou Baa (Gz.)
Baça
Baçal- do grupo Baça, Beça, Rabaçal
Badaguas (Gz.)
Bade (Gz.) - ver "Vade"
Baião
Baiona (Gz.)
Bálsamo
Balsemão
Beça
Beijames
Beijós
Bessa - ver "Beça"
Bestança
Cabrão - ver post "Cabras e Cabreiras"
Cabrum
Cádabo (Gz.) - variante de "Cávado"
Cadavaio - de "Cádavo"+ "Aio": rio-rio?
Caima
Canadinho
Caneiro
Cão

Caralho - raiz "karr-". tal como Cabrão e Carenque, este hidrónimo deve referir-se ao carácter pedregoso do leito do rio ou ribeiro e não à presença de água corrente

Carenque - refere-se ao carácter pedregoso do leito: Karr- + Enk: "rio das pedras"

Cávado -
Ceira -
Ceiroco - diminut. de "Ceira"
Ceiroquinho - duplo diminut. de "Ceira"
Ceras
Cértima
Cértoma
Cesta
Côa
Codes
Coina
Côja - o mesmo que Côa?
Corgo - pronunc. Córgo. variante de Córrego
Corregacho - pleonasmo: Córrego+Riacho?
Corregato - pleonasmo: Córrego+Regato?
Córrego
Corregozinho (Br.)
Correguinho (Br.)
Corrigatos (Gz.) - plur. de "Corregato"
Corvo - o mesmo que "Corgo" (?)
Coura -
Couros -
Criz -
Cua *(Gz.) - do grupo "Côa" (Cuda)
Dão - ver postagem sobre Rio Homem e Rio Dão
Deça (Gz.) - Cf. "Dueça". graf. altern.: "Deza"
Degebe - Ode+Gebe. rio degebe: rio-rio-rio)
Deva (Gz.)
Divor - do céltico "dur": água. a mesma origem de "Douro"
Diz (Gz. e Pt.)
Douro - "rio"
Dubra (Gz.) -
Dueça (Gz.) -
Égua -
Eita -
Eo / Eu (Gz.) -
Erges -
Este -

Eume *(Gz.) - cf. Pontedeume ou Ponte d' Eume (Gz). cf. com "Uima" e "Umia"

Gebre
Gromau
Guadiana - "wadi"+"ana": rio-rio. Rio Guadiana: rio-rio-rio
Homem - ver postagem "Rio Homem, Rio Dão"
Ilha (Gz. e Pt.) *(Gz.)
Inha
Labiados

Labruge - refere-se ao carácter pedregoso do leito do rio. ver Lobão

Ladra (Gz.)
Lama (Gz.)
Landro (Gz.)
Leça
Lena
Lever
Levira
Lila
Lilela - diminut. de Lila
Lima (Cf. Limat em Zurique, CH)
Lis - ver também "Lisandro"

Lisandro - rio Lisandro: rio-rio-rio? do grupo "lis-" , como "rio Lis", e do grupo "-andro", como "rio Sisandro"

Lobão - ver post "Lobos, Lobinhos e Lobões". deve significar "rio de pedras": "lob-" ou "lop-" + "ão"

Lonha ou Loña (Gz.)
Lor (Gz.) - ver "Loura", "Louro"

Loura (Gz.) - mesma origem linguística de "Loire", rio de França. significa "rio"


Louro (ver "Loura")
Maçãs - Cf. com "Rio Manzanares" (Madrid, Espanha)

Marnel - afluente do rio Águeda. Cf ."Marne", rio francês, afluente da margem direita do Sena. Marnel é diminutivo de Marne ("marnelo") com influência da fonética moçárabe.

Massueime -
Minho (Pt. e Gz.)
Minhor ou Miñor (Gz.)
Mondego - de "monda": rio
Nabão
Nava
Navea *(Gz.)
Navia (Gz.)
Neira (Gz.)
Neiva - o mesmo que Navia
Ocreza
Odelouca (árabe "ode"/"wady"+ "louca": rio-rio-rio?)
Ôlo - do grupo Olho, Ul, Ulha, Ulho
Olho - do grupo Ôlo, Ul, Ulha, Ulho
Ota - linguisticamente semelhante ao árabe "odi"/ "wady"
Ouvelha (Gz.) - o mesmo que Ovelha
Ovelha
Ovelhinha - diminut. de Ovelha
Paiva - o mesmo que Pavia
Parga (Gz.)
Pavia
Pei - hidrónimo equivalente a "Pele"
Pele - do grupo Pei, Peio, Pele, Pelhe
Ponsul - ver Sul. rio-rio-rio?)
Rabaçal - ver "Rabagão". de raba+baçal

Rabagão - o mesmo radical "raba-.-" presente em "Rabaçal": raba-g-ão

Riacho das Almas (Br.)

Ribeira das Donas - um pleonasmo: "ribeira da ribeira". aqui "Dona" e "Donas" é parente de "Don" e "Duna" (Danúbio)

Ribeira da Torre - há uma no Algarve, afluente do rio Alvor. e existe também uma em Cabo Verde, na ilha de Santo Antão, a qual pode dever o seu nome a uma transposição do nome algarvio. etimologicamente, o hidrónimo Ribeira da Torre é, com muita probabilidade, um pleonasmo (Ribeira da Ribeira),  em euskera, ribeira é "itur", o que confere grande antiguidade a este hidrónimo.

Ribeira de Abade - um pleonasmo: "ribeira de ribeiro"
Ribeira de Pão Quente - seguramente um equívoco fonético
Ribeiro de Além
Ribeira de Verdelhos
Rio Grande (Gz. e Br.)

Ródão - topónimo frequente, não parece nome de rio em Pt. mas refere-se à presença de um rio. Cf. Rhein, Rhin, Rhône, Ródano

Sabor - pronunc. Sàbôr
Sado - a mesma origem de "Sátão": Sádão; Sado
Sambro
Sar (Gz)
Sarela (Gz.) - diminutivo de "Sar"
Sarnes
Sarria (Gz.)
Sarrazola - do grupo "Sar" / "Sarria" / "Ser" / "Sor"
Sátão - ver "Sado"
Seia - Cf. "Seine" (Fr.)
Selga
Selho - o mesmo que "Sil"
Ser *(Gz)
Serol
Sever - do grupo "Sabor" / "Xévora" / "Távora"
Sil (Gz.)- Cf. "Sihl", em Zurique (CH)
Sionlha (Gz.)
Sirol
Sisandro
Sonoso - em "Ribeiro Sonoso"
Sôr
Sorraia - Rio Sorraia: rio-rio-rio?
Sótão - o mesmo que "Sátão"?
Soure
Sousa
Sul - do grupo "Sil" / "Selho"
Tambre (Gz.)
Tâmega - Cf. "Tambre", "Thames", "Támoga"
Támoga (Gz.) - Cf. "Tâmega"
Tamuge (Gz.) - Cf. "Tâmega"
Távora
Tea (Gz.)
Tedo
Teixeira
Teja - ribeira Teja
Tejo
Telha ou Tella (Gz.)
Torno
Trofa
Trovela - diminut. de "Trofa"?
Tua
Tuela - diminut. de "Tua"
Uima - Cf. "Umia"

Ul - do grupo "Ôlo" / "Olho" / "Ulha" ou "Ulla" (Gz.) / "Ulho" ou "Ullo" (Gz.)

Ulha ou Ulla (Gz.)
Ulho ou Ullo (Gz.)
Umia (Gz.)
Vade - Cf. "Abade"
Varosa - do grupo "Var" / "Ver"
Ver
Verdelhos - ver "Ribeira de Verdelhos"
Vez
Vizela - diminut. de Ave. lat.: "avicella"
Vouga
Xévora - do grupo Távora?

Zêzere - nome muito antigo, significa "rio". há uma Santa Marinha do Zêzere no norte de Portugal, concelho de Baião, muito longe do Rio Zêzere afluente do Tejo. ver Comentº de Liliana Pinto.


nota: (*) hidrónimos em "ar-" e "av-": formam o nome da cidade de Aveiro (Av-+Ar-: rio-rio), assente num território de rios e esteiros. na mesma região, há o topónimo "Avanca", formado por "av-" e "ank-": rio-rio.


sábado, 19 de novembro de 2005

Topónimos Militares









desde sempre as instalações militares, sobretudo as de vigia e defesa, deixaram marcas na toponímia, significando isso a importância que os respectivos povos e civilizações atribuíam à sua própria segurança.

podemos elencar:

A Guarda (Gz.)
Alfarelos -do árabe, As Vigias
Alvorge - o árabe, A Torre
Atalaia
Baluarte
Batalha
Belver (?)
Castelejo
Castelo
Castêlo
Castelo Branco
Castêlo da Maia
Castelo de Alferce
Castelo de Paiva
Castelo de Vide
Castelo Novo
Castelo Rodrigo
Castelo Ventoso
Castrelo
Castrelo do Val (Gz.)
Castro

Castro da Cola - Cola", do árab. Qua' la: "forte", "fortificação". é um pleonasmo

Castro d'Aire
Castromil (Pt. e Gz.)
Castro Roupal

Castro Verde (Pt. e Gz.) - neste caso, às vezes grafado Castroverde

Cerca Velha
Circunvalação
Fortaleza (Pt. e Br.)
Forte
Guarda (Pt. e Gz.)
Guarda Inglesa
Guarda Nova
Guardizela - diminut. de "Guarda"
Mira (?)
Mira d'Aire
Miranda (?)
Mirandela (?)
Monforte (Pt. e Gz.)
Monfortinho
O Castelo (Gz.)

Pêro Viseu - de "Pêro" (pedra, penedo, lajedo) + "Viseu" (guarda, vigia, atalaia). e por que não "Peroviseu"?

Santiago da Guarda
S. Pedro da Torre
Sargento-Mor
Sentinela
Torralva (?)

Torre (Pt. e Gz.) - algumas "torres" são derivadas do basco iturri e significam "fonte"

Torre da Medronheira
Torre da Silva
Torre das Vargens
Torre de Bera - ver aqui
Torre de D. Chama
Torredeita (?)
Torre de Moncorvo
Torre de Vilela
Torrejão (?)
Torres
Torres do Mondego
Torres Novas
Torres Vedras
Torres Velhas - o mesmo que Torres Vedras, mas linguisticamente mais recente
Torre Vã
Torrinha
Torronha (Gz.) (?)
Torrozelas (?)
Valença
Valença do Douro
Valença do Minho
Vela
Vigia

Viso - lugar alto onde está ou esteve uma vigia ou atalaia


sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Rio Homem, Rio Dão

certos rios podem ter destas coisas. podem ter nomes que os faz parecer estranhos entre si, mas um exame mais atento mostra que, afinal, são rios da mesma criação. é o caso do Homem e do Dão .
"Om" é o nome de origem de ambos os rios, que apenas estão separados pela pronúncia. o segundo nasalou e ficou "Ão". o primeiro não e ficou "Ome". e agora entra em cena uma outra operação: ao "Ome" botaram-lhe um h no começo e um m no fim, porque parecia mal dizer "home" em vez de "homem". o "Ão" levou um D no início porque se esqueceram do apóstrofo e não soa bem dizer "...de Ão". por exemplo, Santa Comba d'Ão que era, ficou Santa Comba Dão. a pronúncia é igual, a escrita é que mudou.
bem perto de Santa Comba d'Ão existe uma Várzea do Homem, testemunha fiel da existência do tal "Om" - que quer simplesmente dizer, na sua antiquíssima língua, "fonte", "manancial", "água corrente". ou seja, rio.

estes hidrónimos multiplicam-se por toda a Galiza e em Portugal. as muitas teorias em que a Toponímia se deleita e compraz não afastam o parentesco "Ão"/"Home" - nem poderiam.

e um outro rio, aliás parceiro do Homem na bacia do Cávado, tem no seu nome a palavra "Ão": o rio Rabagão, de "raba-g-ão".que entra tamém para a família dos hidrónimos em "raba-", como Rabaçal.



segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Designações Erradas na Toponímia Portuguesa

algumas designações toponímicas de Portugal Continental, sobretudo as que se referem a Regiões ou troços de rios luso-espanhóis, carecem de revisão, pelos erros que representam e pela confusão que estabelecem com as designações espanholas. algumas dessas designações já estarão irremediavelmente consagradas pelo uso, outras não trarão grande mal ao mundo se forem corrigidas.
noutros tempos, em que Espanha e Portugal quase não se conheciam, talvez ninguém desse pelo erro, mas agora, que são dois Estados da União Europeia sem fronteiras internas, é bem difícil não topar os erros e não descobrir onde está o equívoco.
no que toca aos rios, chama-se "Alto..." ao troço que corre em altitude, a partir da nascente ; "Riba..." ao troço que corre entre vales e gargantas, mais ou menos profundos - as "arribas"; e "Baixo..." ao troço final, mais ou menos plano, que segue até à foz.

assim, vejamos:

"Alto Minho" (que é o "Baixo Minho" galego, a designação correcta. o verdadeiro "Alto Minho" situa-se na Província de Lugo)

"Alto Douro" (na realidade é "Riba Douro". o verdadeiro "Alto Duero" situa-se a montante de Burgos)

"Baixo Minho" (na realidade é "Vale do Ave")

"Ribatejo" (na realidade é "Baixo Tejo". o verdadeiro "Riba Tejo" situa-se entre as Portas de Ródão e Almourol)

"Vieira do Minho" - ver "Topónimos Viários"

domingo, 6 de novembro de 2005

Alguns Nomes de Rios em Tupi-Guarani


no Brasil, os topónimos têm uma de duas origens linguísticas: a nativa, em língua tupi-guarani, ou a europeia, em língua portuguesa. apenas uma fração muito residual tem outra origem, inclusive anterior ao tupi-guarani.
o hidrónimos (grego: nomes de rios) obedecem a um padrão universal, que se repete nas outras culturas, nas outras línguas e nos outros povos.

apenas alguns exemplos:

Aguapey - aguape (nenúfar)+y (água, rio) = "rio dos nenúfares"
Anhangay - anhangá (o diabo)+ y (água, rio) = "rio do diabo"

Guaíba - gua (grande) + y (água, rio)+ ba (lugar)= "lugar de água grande", "lago". na realidade, discute-se se o Guaíba é um rio, pois tem propriedades de lago

Iguaçu - por "Iguassu": y (rio) + guassu (grande) = "rio grande". o mesmo que "Guadalquibir" ou "Guadalquivir", em árabe. também existe em português, como em "Rio Grande do Sul"

Ipanema - y (água, rio) + panema (mau) = "rio mau". também existe em português "Rio Mau"
Ipiranga - y (água, rio) + piranga ( vermelho) = "rio vermelho"
Sapucaí - sapucaia (nome de fruta)+ y (rio) = "rio das sapucaias"

Solimões - nome de tribo índia ( os Solimões ). quer dizer, como em vários exemplos na Europa, "o rio em cuja bacia ou margens vive a tribo dos...", neste caso dos Solimões

Tamanduatey - por tamandetay: "rio que faz muitas voltas". também há em português rios com o mesmo significado (por exº, Rio Torto?)

Tapajós - nome de tribo índia (os Tapajós). neste caso, "o rio em cuja bacia ou margens vive a tribo dos..." Tapajós. quanto a "Tapajós" ver post "O Topónimo Aldeia no Brasil" - arquivo outubro 2005




quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Topónimos Viários

Ponte das Três Entradas

enquanto ia no Caminho, fui rabiscando todos esses topónimos que nos falam de veredas, estradas, carreiras, calçadas, caminhos, ladeiras, azinhagas, [estradas] mouriscas, [estradas] reais, vianas, vieiras, corredoiras ou corredouras, cruzes, entroncamentos, ruas, albergarias, arrifanas, catraias, vendas, malapostas, pousadas, sei lá que mais...
a profusão de topónimos viários demonstra à saciedade a importância que sempre tiveram as vias terrestres, e sua logística, na vida dos seres humanos.
Vejam só:

A Estrada (Gz.) - caminho entre dois povoados
Albergaria (Pt. e Gz.)- casa onde se albergavam os peregrinos
Albergaria-a-Nova
Albergaria-a-Velha
Alcântara - do árab.: "a ponte"

Alcantarilha - do cast. alcantarilla: "construção destinada a permitir que um pequeno canal cruze uma estrada por baixo". de certo modo, é uma ponte ao contrário.

Alcongosta -
Almansil - árab: "a pousada"
A Lomba (Gz.) - ver "Lomba"

Alportel - híbrido árab. al + rom. portela: "a +portela". ver "Portela"

Alto da Estrada - ponto alto de uma povoação onde passa a estrada
Alvalade - árab: caminho, via

Arrebentaço - vereda muito íngreme, que só se pode fazer a pé e sabe Deus como

Arrifana - árab: a venda
A Rua (Gz.) - caminho ou estrada entre casas. ver "Rua"
Avelãs de Caminho

Azinhaga - árab: az-zanaka: caminho estreito

Calçada - troço de estrada romana com calçada de pedra
Calçada do Gato
Calçadas -

Caminho (Pt. e Gz.) - para se fazer a pé
Canada -
Carreira (Pt. e Gz.)- para se fazer com carro, carreta ou charrete
Carreiras -
Carreira Velha - carreira antiga
Carreiro - caminho estrito, atalho, vereda; caminho para carros
Carreiro de Joanes -
Carreiro do Inferno -
Carreiro Velho -
Carril - caminho estreito, carreiro
Catraia - um caselho na borda da estrada
Cêrro da Portela - o mesmo que "Sêrro da Portela"
Corredoira (Pt. e Gz.)- o mesmo que "Corredoura"

Corredoura - caminho para carro ou carreta. ver Carretera (Esp.)

Coruche - cruze, cruzamento
Corucho - cruze, cruzamento
Corujeira (Pt. e Gz.) - lugar de cruzamentos ? encruzilhada?
Coruxeira (Gz.) - ver "Corujeira"
Cruceiro (Gal.) - de "Cruce" ou "Cruze": cruzamento
Cruz - de "cruze": cruzamento

Cruz da Légua - duplo topónimo viário. não nos diz a partir de onde se conta a légua

Cruz da Toita -
Cruz de Celas -
Cruz de Chão do Bispo -
Cruzeiro - ver "Cruceiro"
Encontro - lugar onde confluem caminhos ou estradas
Encruzilhada - cruz, cruze, cruzamento
Entroncamento - lugar onde entroncam duas vias
Entroncamento de Poiares -
Enxara - do árab. "ax-xára'a": "estrada", "caminho"
Enxara do Bispo -
Enxara dos Cavaleiros -
Enxaras de Baixo -
Enxaras de Cima -
Enxaras do Meio -
Estrada -
Estrada Velha - antigo troço de estrada
Estradinha -
Formoselha - ver aqui
Jã da Rua - de "Jã", do lat. "jana": "porta"
Ladeira - troço de caminho ou estrada com inclinação
Ladeira do Pinheiro

Lomba (Pt. e Gz.) - cumeada de uma elevação. maior ou menor elevação que se apresenta numa estrada ou caminho relativamente plano

Maçãs de Caminho - duplo topónimo viário: mansões (de repouso) + caminho
Malaposta - local onde parava a malaposta - carruagem do correio - para descanso, alimentação e pernoita, deixar correio e mudar de cavalos

Meia Via -
Mesão Frio -
Monte da Enxara - ver "Enxara"

Mourisca - variante mourisca de um troço de estrada anterior. não confundir com Mourisca e Mouriscas, quando se refere/m a aldeias

Muda - lugar de paragem dos passageiros e de troca de cavalos
Paçô Vieira -
Padrão da Légua -
Pontão -

Ponte das Três Entradas - ponte em Y, sobre dois rios, permitindo o entroncamento de duas estradas

Ponte Lobão -

Portagem - lugar onde se pagava imposto para atravessar uma ponte ou troço de estrada

Portel - o mesmo que "Portela" e "Portêlo"

Portela (Gz. e Pt.) - diminut. de lat. "porta": passagem estreita entre montes

Portela d'Home (Gz.) - o mesmo, mas mais correcto, que "Portela do Homem"

Portela do Extremo -

Portela do Homem - aqui "Homem" é um rio, cuja grafia correcta seria "Ome". ver "Portela d'Home". pretendendo corrigir a pronúncia popular de "home" por "homem", os eruditos ignoraram as origens do nome do rio "Ome"

Portela do Lobo -
Portela do Pereiro -
Portela do Vade -
Portela do Vento -
Portelinha - diminut. recente de Portela
Portelinho - diminut. de "Portêlo"
Portêlo - passagem estreita. diminut. intermédio de Porto
Portinho - diminut. recente de Porto

Porto - sítio por onde se pode atravessar um rio ou um monte. não confundir com "porto", abrigo para embarcações

Porto Alto -
Porto Antigo -
Porto da Carne -

Porto d'Ave - primeiro sítio onde é possível atravessar o rio Ave depois da nascente

Porto do Rei -
Portuzelo - diminut. arcaico de Porto

Pousada (Gz. e Pt.) - casa onde se re-pousava quando se viajava, a pé, a cavalo ou de carruagem

Pousada de Saramagos -
Pousadoiro (Gz.) -
S. Bento da Porta Aberta
S. Brás de Alportel - ver "Alportel"
Rua -
Rueiro (Gz.) -

Santiago da Cruz - hoje, por um secularismo mal informado, há muito quem diga apenas "Cruz". o topónimo indica duas coisas: que se trata de um cruzamento e que o caminho ou estrada principal levava a Santiago de Compostela.

Sêrro da Portela -
Valinho da Estrada -
Vendas de Maria -
Verea (Gz.) - vereda, caminho estreito
Vialonga -
Viatodos - (?)

Vieira - fem. de "vieiro": senda, caminho, vereda, carreiro. não confundir com "vieira", do lat. "venerea", "de Vénus", conhecida concha de molusco associada ao nascimento da deusa Vénus

Vieira de Leiria

Vieira do Minho - topónimo aparentemente incorrecto, pois que "V do M" não se situa no Vale do Rio Minho, mas sim na nascente do Rio Ave. mas pode interpretar-se como "o [início do] caminho ou vereda que conduzia à Região do Minho" os que lhe botaram o nome - e aí está certo

Vieiro - sendeiro, caminho

Vreia de Bornes - o mesmo que "Verea". uma "vereda" na Serra de Bornes
Vreia de Jales - uma vereda na região [das minas de oiro] de Jales


"Compostela", "Bustos" e "Bustêlo"


o amigo João Lopes Ribeiro (Jolorib), de S. Paulo, deixou o desafio: "e Compostela, qual o significado?" é claro que eu ia falar disso, uma coisa chama a outra, vespeiro chama vespeiro, mas assim levo já a picada.
sabe, o Caminho começa em Aachen (antiga Aix-la-Chapelle, de Carlos Magno), na Alemanha, e termina em Compostela, na Galiza. e o que existe numa e noutra cidade? um túmulo.
"Compostela" existe na Galiza, mas também existe em Portugal. faz parte de uma família de topónimos cujo significado anda em torno de com-bustão, como "Bustos", "Bustêlo", "Compostela", associados a lugares de transformação do vivo em morto e do morto em vida, através de "com-bustão", que pode significar putrefacção ou cremação.
"Compostela" é isso. só que essa "combustão" pode bem ser outra, para quem leu alguma coisa a respeito de Alquimia. e em Compostela, perdão, em "Santiago de Compostela", tudo tem um jeito especial de ter duplo sentido: a "Praça do Obradoiro", a "Rua dos Prateiros", a "Rua dos Ourives", a "Rua dos Azevicheiros", tudo ali em redor da Catedral. o mais difícil será fazer de conta que nada disso tem um sentido, ligado à Obra d'Oiro (Alquimia), à transformação dos metais e à transformação interior que faz tanta gente lá ir. há quem diga que para re-nascer, quer dizer morrer para a vida anterior e nascer para uma vida nova. o túmulo aí é um símbolo.
é claro que uma tal linguagem se presta a interpretações quase ao gosto do freguês..., mas que "Compostela", "Bustos" e "Bustêlo" estão relacionados com com-bustão e com-posto, isso estão.



há também quem fale que "Compostela" vem do latim Campus Stellae: "O Campo da Estrela". pode ser. mas nem assim a gente se livra do Caminho. porque essa tal estrela será a Sírius, da Constelação de Cão Maior, o cachorro que faz companhia a santiago...
e se essa estrela fosse, apenas, o lugar de encontro de todos os caminhos que chegam a Compostela? bom, não seria uma verdadeira "estrela", mas sim uma vieira ou concha de santiago, com suas estrias confluentes num ponto extremo. E não sairemos do Caminho...
a Toponímia é assim.







terça-feira, 1 de novembro de 2005

O Topónimo "Santiago"


à primeira vista, Santiago é um hagiónimo (do grego: nome de santo) e refere-se ao discípulo de Jesus, Jaccob, evoluído para Tiago após o costume de ser tratado por Santo Iago, Sant'Iago e, finalmente, Santiago e S. Tiago. mas será mesmo assim? o que faz o discípulo-irmão de Jesus, um natural do Oriente Médio, ali em Compostela, no cantinho Noroeste da Península Ibérica? e, sobretudo, como aparece ele associado a uma peregrinação milenar, tão anterior à vida terrena de Jesus de Nazaré que bem podia dizer-se dela, como dizem os índios do Brasil, que é aracajú, quer isto dizer, do tempo em que apareceu o cajú ou do tempo em que tudo começou.
é claro que há uma lenda cheia de simbolismo e de mistério que todos os que se fazem ao Caminho seguramente conhecem, mas que sabem também decifrar.
Santiago é "o fim do caminho", el camino [que] se hace al andar.
se andarmos por Navarra (Nafarroa) ou pelo País Basco (Euskadi), todos os caminhos e estradas são "Iasa" e a cidade onde o Caminho Francês sai dos Pirinéus e entra afoitamente na Península chama-se "Jaca". uma e outra são palavras de uma língua ibérica que também é muito antiga: o euskera ou basco. e em França os jacques ou peregrinos já se faziam ao Caminho de Santiago inda os tataravós do apóstolo andavam de cueiros e chupeta.
não andaremos muito longe da verdade se dissermos que entre os santos iagos e os santos peregrinos existe uma mudança de fronteira linguística e religiosa - o mesmo é dizer: política.
o Santo Iago cristão, o Apóstolo Jaccob, foi colado depois, na Idade Média, às peripécias do misterioso Caminho de Compostela. o facto de Almançor ter arrasado o templo em 997, sob o pretexto de tratar-se de um centro de paganismo, indica que o culto não tinha nada de cristão àquela data.
este é o Santiago principal, onde conflui uma vieira de estradas e caminhos, aqui e acolá semeados de povoações, vilas e cidades cujo topónimo integra Santiago ou S. Jacques. onde quer que se enxergue "Santiago de..." ou "S. Jacques de...", aí passa uma iasa ou caminho que leva a Compostela.
na Península, muitas dessas vilas e cidades estavam entregues à Ordem Religiosa Militar de Santiago, para protecção do Caminho então cristianizado.
por toda a Espanha, na Galiza e em Portugal não faltam topónimos que se referem a "Santiago" e ao "Camino", "Camiño", "Caminho", "Iasa". Quem não conhece Avelãs de Caminho, Santiago da Cruz (ver "Cruzamentos" e "Encruzilhadas"), Santiago da Guarda ou Santiago do Cacém?

nota: na América, o topónimo "Santiago" foi levado pelos espanhóis, já a cristianização do Caminho estava feita. e o s. tiago cristão toma o nome de st. james na inglaterra e de s. jaume na catalunha